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‘Me sinto como Carlos Magno’, diz o presidente Michel Temer

‘Me sinto como Carlos Magno’, diz o presidente Michel Temer

Embora dispense sua foto nos gabinetes e a faixa presidencial, ele se compara ao imperador católico

Aparentando pisar em ovos no posto de presidente da República efetivo, Michel Temer pensa em abolir o uso do retrato oficial do presidente em todas as salas e gabinetes do governo federal. Para Temer, ver sua foto pendurada provoca nele o sentimento de que já morreu. Além disso, explica, é “um exagero”, um “culto à personalidade”. O presidente também afirmou que só pretende usar a faixa presidencial em uma ocasião: quando for entregá-la a seu sucessor. Para ele, o uso é dispensável, sinal de “soberba”. Outro símbolo da Presidência, a residência oficial, não será ocupada tão rapidamente por Temer e sua família. A ex-presidente Dilma Rousseff a desocupou na terça-feira passada, mas o presidente diz que ainda ficará um tempo na residência reservada ao vice-presidente, o Palácio do Jaburu.

— Tem mais jeito de casa — justifica.

Embora diga que “nunca conseguiu detectar” se é supersticioso, ele se recusa a sentar-se à mesa de trabalho do gabinete presidencial no Palácio do Planalto, usada diariamente por Dilma nos mais de cinco anos como presidente. Temer não mudou nada na sala usada por Dilma, mas cogita trocar os móveis em couro preto por um tom mais claro, “talvez gelo”.

A entrevista já tinha mais de uma hora e meia e o presidente ainda não tinha mencionado sequer uma vez o nome de Dilma. Só o fez quando perguntado por que evitava citar nominalmente a petista. Todas as vezes em que se referiu à antecessora, alternava dizendo o “ex-governo” ou o “governo anterior”. Em uma das poucas referências elogiosas que fez, quando afirmou que o reajuste para os servidores foi uma boa negociação porque adotou um índice abaixo da inflação, ressaltou que foi feita pelo “Estado brasileiro”.

A única pergunta que se recusou a responder foi sobre o fatiamento do processo de impeachment, que permitiu à ex-presidente manter os direitos políticos apesar da cassação do mandato.

MARCELA É ‘MUITO DISCRETA, GRAÇAS A DEUS’

Temer trabalha em uma grande mesa redonda de madeira e senta-se na cadeira de espaldar mais alto, entre as doze ao seu redor. À sua frente, tem um exemplar da Constituição encadernado em couro preto e adornado com uma fita verde e amarela. Perguntado sobre a primeira-dama, Marcela Temer, o presidente corou, riu, olhou para baixo e citou que estão casados há 14 anos, para justificar que não sente ciúme da bela advogada de 33 anos. Ela está prestes a ocupar um gabinete no Planalto, onde irá atuar no programa Criança Feliz. Marcela, inclusive, já tem uma agenda de trabalho marcada para Nova York durante a ida do presidente à Assembleia Geral da ONU.

— Ela é muito discreta, graças a Deus. E eu mantenho muito a discrição — emendou.

Ao longo da entrevista, evitou o uso de mesóclises, mas perguntado, brincou.

— Tentá-lo-ei não fazê-lo — disse, gargalhando.

Em quase duas horas de conversa, fez três citações em latim, inclusive a usada na abertura da carta que escreveu a Dilma, em dezembro do ano passado, reclamando do tratamento reservado a ele: “verba volant, scripta manent” (palavras faladas voam, a escrita, permanece), disse novamente, ao afirmar que se viu obrigado a manter os aumentos salariais a alguns setores feitos por escrito pela petista antes do afastamento. E quando afirmou ter sido cauteloso no período de interinidade, recitou um ditado espanhol: “Se quieres conocer a fulanito, dale um carguito”. Também usou expressões formais, como o “data venia” e o “sem embargo”, explicando que a formalidade vem da época em que lecionava Direito Constitucional.

— As pessoas criticam por que eu falo o português naturalmente. Não pense que não erro. Dei aula por 30 anos. Eu dizia, o advogado lida com a palavra. Vocês têm que ler muito. A leitura vai fazer com que vocês nem precisem das regras. Então, eu falo um português razoavelmente adequado — disse.

O presidente se mostrou descontraído em várias ocasiões. Contou que um jornalista procurou a Secretaria de Comunicação do Planalto questionando se, na viagem à China, a primeira que fez após assumir definitivamente a Presidência, iria comer em restaurantes e se hospedar em um hotel.

— Até disse ao Márcio (Freitas, secretário de Comunicação), é melhor responder que vou comer sanduíche e que vou montar uma tenda lá, porque não vou ficar num hotel — disse, irônico.

Ao fim da entrevista, soltou que, quando despacha na mesa presidencial e ela tem todos os assentos ocupados, sente-se como o imperador Carlos Magno.

— Eu me sinto aqui como Carlos Magno. Quando eu tinha 11 anos de idade, eu ganhei um livro chamado “Carlos Magno e os 12 cavaleiros da Távola Redonda” e eu li aquele livro e era assim: os doze cavaleiros”.

Fonte: Fato Online

Sobre o autor | Website

Hudson Cunha foi Secretário de Comunicação, Diretor de Comunicação na Associação de Blogueiros do Distrito Federal e Entorno. É jornalista Especializado em Comunicação Empresarial e Marketing em Mídias Digitais e idealizador do Instituto Hudson Cunha - Consultoria, Treinamento e Assessoria e da Agência 84 – Comunicação. Inteligente, alegre e amante de um bom vinho.